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segunda-feira, 7 de julho de 2008



ACHADOS E PERDIDOS

TERRENO BALDIO REVISITADO

“Terreno Baldio” é o primeiro disco da banda paulista de mesmo nome. Lançado em 1975 pelo selo Pirata, com capa dupla, de luxo, revelando um certo tom de lisergia. A banda faz parte do chamado rock progressivo brasileiro e tem aquele estigma de muitas bandas: ou se gosta ou se detesta, aliás o que é bem típico das bandas progressivas. Atualmente, quando existe uma tendência de exumação de projetos musicais setentistas, que na realidade nunca foram enterrados totalmente, vale a pena passar esse Terreno a limpo.

O rock progressivo se tornou para muitos motivo de chacota ou até mesmo de escada, se quiser parecer antenado na roda, estiloso, fashion descolado, ou então o fodão mais bem informado da rede, numa sala de bate papo aí qualquer, basta meter o pau no rock progressivo, que os outros pastéis de vento vão coçar o queixo e vão dizer, pô, o cara saca meu, ó ai! No entanto, são pouquíssimos aqueles que realmente têm informação musical suficiente para entender e saber dimensionar o que é estética musical original ou o que é encheção de saco homérica.

Da mesma forma que qualquer outro segmento da música, o rock progressivo é cheio de gênios, de babacas insuportáveis e de artistas especialmente comuns, simples diluidores das verdadeiras criações. A banda Terreno Baldio é um pouco de cada um desses aspectos. De certa forma o grosso do rock brasileiro é formado por pastiches hilariantes, mas muita coisa boa aconteceu e pouco tem acontecido.

No caso do rock progressivo existem aqueles com maturidade criativa, como é o caso do disco “Corações Futuristas” de Egberto Gismonti, uma das maiores obras do gênero no mundo, em que você escuta talento e genialidade; bem como aqueles que tiveram que se dobrar aos ditames das gravadoras, em busca de alimentar o mercado com replicações, como é o caso de “Lar de Maravilhas” do Casa das Máquinas, em que você escuta competência e talento, mas também escuta cópias e clichês.

“Terreno Baldio”, o disco, faz parte da segunda vertente. A banda é formada por músicos excelentes, mas compromissados com um produto encomendado, que acabou tolhendo a criatividade das composições e arranjos, mas que é possível detectar em momentos e climas do disco. A banda foi saudada pela crítica e fãs como o Gentle Giant brasileiro. O que deveria ser um elogio na realidade é uma constatação de imitação, não de todo, mas que ela existe além da influência, ela existe.

As oito faixas do disco revelam traços predominantes do rock progressivo criado pelo Gentle Giant: com contra-pontos melódicos, escalas intercaladas, mudanças de andamentos, mudanças de tons, fragmentos de escalas, música minimalista e ecos de música medieval nos vocais e arranjos, além de um intenso diálogo entre a guitarra de Mozart Melo e os teclados de Lazarini.

Em determinados momentos é possível perceber as cores do jazz fusion, com grooves legais de baixo e bateria e improvisação de guitarra e teclados. Já nos momentos em que existe uma mistura do rock progressivo com a música de raiz brasileira é quando a banda se torna mais original e projeta esse disco para a história do rock brasileiro como uma verdadeira peça de aquisição obrigatória.

O vocal de Fusa é competente, afinado, com modulações difíceis, mas completamente sem carisma, frio como uma garoa paulista. Apesar de um certo tom conceitual de algumas letras, em torno do mote terreno baldio, exigido pela gravadora, existe um ar de infantilidade poética que é sem par. Esse é o ponto mais fraco do disco.

O disco abre com “Pássaro azul”, que contrariando a sombra do Gentle Giant, tem pegada e clima inteiramente Premiata Forneria Marconi, escute “River of life” do disco “Photos of Ghosts” do Premiata que você vai entender. A guitarra com phase de “Loucuras de amor” revela uma das melhores faixas do disco, que lembra os climas da banda Embrayo, com belo solo de Mozart. Outro destaque vai para as faixas “água que corre” e “A volta”, já dentro das influências do jazz fusion dos anos 70, outro groove bem legal, e com detalhes de guitarra bem legais.

Em “Quando as coisas ganham vida” existe a fusão do rock progressivo com ritmos nordestinos, muito legal mesmo. Essa vertente seria muito mais explorada no segundo trabalho da banda “Além das lendas brasileiras”. O Terreno Baldio teve uma versão remixada e remasterizada, lançada pela gravadora Rock Symphony, com embalagem luxuosa, com fotos da banda, letras em inglês e entrevistas dos componentes. Esse é um registro que vale a pena ter.

A banda

João Carlos Kurk (Fusa)- vocal, flauta e percussão
Mozart de Mello - guitarra
Ronaldo Lazzarini - teclados
Ascenção - baixo
Joaquim - bateria e percussão

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